segunda-feira, 30 de junho de 2008

Rádio analógico e web para a educação e as intenções das políticas públicas.

RESUMO
Esse trabalho apresenta o rádio como meio de comunicação, sua importância para educação, especialmente a contribuição dos projetos “Movimento de Educação de Base” e “Minerva”, e as políticas públicas voltadas para a sua utilização. Também analisa a junção do rádio com a web, o que favorece maior difusão planetária e contribui para a construção do conhecimento.

PALAVRAS-CHAVES: educação, rádio, políticas públicas.

INTRODUÇÃO
O rádio é um meio de comunicação com bom potencial, que garante a informação das pessoas aonde quer que elas estejam. O aparelho pode ser pequeno, a pilha, podendo ser transportado com facilidade. Ele se adapta à vida das pessoas sem muitas exigências. Pode ser levado na mala, no bolso, no pescoço, no carro. A transmissão do sistema brasileiro de rádio possibilita a rede chegar aos mais distantes lugares do Brasil. Geralmente, os programas são variados para satisfazer todo e qualquer tipo de ouvinte. A linguagem é simples, dinâmica e direta, sendo considerado um meio de comunicação unidirecional. Porém, é subutilizado quando se trata de programas formais para a educação.

Educação através do rádio
Desde o surgimento da radiodifusão no Brasil, até os dias atuais, observa-se a grande potencialidade do rádio, por isso, esse meio de comunicação sempre se mostrou favorável ao processo educativo. Ao analisar os programas educacionais implantados, desde a origem do rádio, percebe-se os benefícios e a descontinuidade dos programas de acordo com cada momento e interesse político.
Em 1923, quando o antropólogo Edgard Roquete Pinto instala a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a finalidade é cultural, educativa e altruísta, ou seja, o sentimento alheio era visto acima do próprio interesse. Nota-se aí os primeiros passos para a difusão da informação. As primeiras transformações na política do rádio surgem na década de 30, com a introdução de comerciais nos programas. Antes disso, o uso de propagandas era proibido. A partir de 30 modifica-se a estrutura, tornando o rádio mais popular, pois começa a contratação de artistas e produtores, a competição e desenvolvimento técnico, o que dá status à emissora (ibope) e popularidade ao veículo. "O impacto do rádio sobre a sociedade brasileira, nesta época, foi muito mais profundo do que aquele que a televisão viria a produzir 30 anos depois." (MARANDA, 1980, p.72).
O Brasil apresenta distribuições geográficas variadas, onde umas regiões são menos desenvolvidas que outras, possuindo alto índice de analfabetismo. A partir do momento da descoberta do rádio foram surgindo pessoas interessadas em disseminar a educação aos analfabetos. Em 1946, o professor João Ribas da Costa desenvolveu o Plano de Educação Fundamental pelo Rádio, idéia que não foi aceita pelo governo da época com a justificativa de que seria impossível alfabetizar a população pelo rádio. Na época, o pensamento educacional hegemônico defendia o contato direto entre educador e educando, sendo este considerado como indispensável no processo de ensino-aprendizagem. O bispo Dom Eugênio Sales também percebeu a importância do rádio na educação, denominando-o de "arma poderosíssima" (SALES, 2005, p. 2), pois acreditava que era possível adaptar o método das escolas radiofônicas da Colômbia à realidade rural existente no Rio Grande do Norte. Então, ele inaugura a Emissora de Educação Rural de Natal em agosto de 1958. Para Sales (2005, p.2) a rádio nascia com a missão de "educar, conscientizar e evangelizar".
A experiência radiofônica para educação que ganhou proporção e mobilização foi o Movimento de Educação de Base. O MEB surge no Brasil em 1961, a partir da experiência das Escolas Radiofônicas, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB. O trabalho do MEB procurava formar a pessoa dentro do seu mundo próprio, da cultura por ela criada, dos valores dessa cultura, mostrando-lhe a possibilidade de escolha dos princípios mais adequados à sua realização. Segundo, Fonseca e Cruz (2007, GT) “os fundadores do movimento acreditavam que as pessoas conscientes criavam possibilidades de tomada de consciência em relação a problemas e situações comuns vividos pelos diferentes sujeitos sociais”. O movimento se expande pelo Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o sucesso leva o presidente Jânio Quadros, em 21 de março 1961, pelo Decreto 50.370, a assinar um convênio entre a CNBB e o Ministério de Educação, transformando as Escolas Radiofônicas no Movimento de Educação de Base. Porém, em 1963, quando o programa alcança sua maior expansão, o Brasil vive o momento de repressão, se transformando num regime excludente de participação. Depois de 1964, “o governo ditatorial via com dúvidas a ação do MEB passando a contribuir para a queda da prática questionadora e de suas características de educação popular” (FONSECA; CRUZ, 2007). A partir de 1965, ele entra em declínio, em razão da diminuição das verbas governamentais.
Em 1970 nasce o Projeto Minerva no Serviço de Radiodifusão Educativa do Ministério da Educação e Cultura. Do ponto de vista legal, foi ao ar tendo como escopo um decreto presidencial e uma portaria interministerial, de nº. 408/70, que determinava a transmissão de programação educativa em caráter obrigatório, por todas as emissoras de rádio do país. “O objetivo maior do projeto atendia à Lei nº5. 692/71, que dava ênfase à educação de adultos” (SABACK, et al, 1998). O parecer nº 699/72 determinava a extensão desse ensino, definindo claramente as funções básicas do ensino supletivo: suplência, suprimento, qualificação e aprendizagem.
O rádio, mais uma vez, foi escolhido por ter custo mais baixo, no que se referia a aquisição e manutenção de aparelhos receptores e a familiaridade das pessoas com ele. Não muito diferente do projeto Meb, o objetivo era levar a educação para jovens e adultos, em especial da zona rural. Para Saback, et al (1998, GT), a estrutura e forma de condução do Minerva foram através dos rádiospostos que funcionavam em escolas, quartéis, clubes, igrejas e outros locais. Com a seguinte estrutura recepção organizada – cerca de 30 a 50 alunos se reuniam nos radiopostos, sob a liderança de um monitor, para ouvir a transmissão das aulas; recepção controlada – os alunos recebiam isoladamente a transmissão dos cursos, reuniam-se semanal ou quinzenalmente sob a orientação do monitor; recepção isolada – os alunos recebiam emissões em suas casas.
Descrever esses dois programas educativos radiofônicos fez-se necessário frente à atuação das políticas públicas no processo de incorporação dessa tecnologia. A educação no Brasil sempre foi visto como processo de estratégia e intervenção ligadas aos interesses de uma classe hegemônica, minoritária. Daí entende-se porque as políticas públicas são sempre voltadas para uma formação ligeira das pessoas e porque há descontinuidade dos programas educacionais de maneira geral. Atualmente, o MEC apresenta o Programa Rádio Escola, que desenvolve ações que utilizam a linguagem radiofônica para o aprimoramento pedagógico de comunidades escolares, o desenvolvimento de protagonismos dos cidadãos e o treinamento de grupos profissionais. O governo entende que:
O salto tecnológico tem causado profundas modificações culturais
e pode efetivamente trazer melhorias sociais, sobretudo quando se
ampliarem às oportunidades de apreensão do saber através das
variadas mídias existentes. Na área educacional, essas novas
tecnologias potencializam as mais antigas, integrando-se a elas e
proporcionando uma democratização da produção e recepção do
conhecimento e das informações (informações aqui entendidas
como patrimônio público, de acesso aberto a todo o povo rasileiro).
A interatividade cada vez maior dos meios de comunicação exige o
desenvolvimento de habilidades específicas nos que dela fazem uso.
Caso contrário aparecerá uma nova forma de exclusão social: o
analfabetismo dos meios de comunicação. (SEED, 2008)
No entanto, analisando esse programa, a intenção de transmissão do conhecimento é bem explícita, quando apresenta um programa com pacotes fechados, prontos para serem absorvidos e transmitidos apenas, ou seja, a intenção é a reprodução. Mais uma vez a política pública limita toda a possibilidade de construção do conhecimento através das tecnologias da informação.

Rádio-web favorecendo a educação
A fusão das tecnologias está voltada ao contexto da internet. Da relação rádio e internet nasce à rádio Web. O rádio ganha mais uma aliada para sua difusão, e agora, com poder de conexão facilita maior acesso favorecendo mais uma vez, a possibilidade das pessoas terem acesso à educação. A internet, diferentemente do rádio, com mais velocidade em redes, atende as dimensões globais. A Web supera as limitações tradicionais do rádio de comunicação por transmissão unidirecional e sem interação. O Web-rádio é um instrumento simples e pode ser usado pelos alunos para produzirem programas, com base em suas pesquisas, criarem vinhetas, o que leva o conhecimento para além dos muros da escola. Como metodologia, estimula a criatividade, o trabalho em grupo e a efetiva relação entre teoria e prática. As pautas são construídas de forma coletiva e, neste exercício, a construção dialógica é uma relação fundamental do processo. Ressalta-se ser um ambiente de baixo custo, onde a produção pode ser por qualquer pessoa, e a partir de um sistema de transmissor ou de sua interação à internet, é possível interagir nas aulas de forma instantânea, podendo atingir grandes contingentes de pessoas dispersas geograficamente.
De acordo com as mudanças históricas, vão surgindo projetos que favorecem a educação. Hoje, tem-se o grande invento das tecnologias da informação e comunição (TIC); no entanto, “se não tivermos políticas que considerem isso prioritário, o que teremos é a manutenção do mesmo sistema centralizado só que, agora, com significativo aumento de custos de manutenção das escolas uma vez que elas estarão equipadas com estas tecnologias” (BONILLA e PRETTO, 1999:26). Fundamental estar atento as TIC nas escolas, uma vez que elas oferecem potencial de desenvolvimento e construção do saber.

CONCLUSÃO:
Esse estudo possibilitou entender as possibilidades do rádio para a educação. O rádio analógico de fácil acesso penetra nas localidades de difícil acesso, onde hoje, a internet ainda não se instalou por falta de recursos financeiros. Porém, a radio web chega com força total, favorecendo a interação do conhecimento, de maneira heterogênea e cooperada. Portanto, remeto-me mais uma vez às intenções do governo atual, tanto na esfera federal como estadual, em promover políticas públicas para o uso das tecnologias da informação na educação.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BONILLA, Maria Helena Silveira; PRETTO, Nelson De Luca. Políticas de educação e informática. Disponível em: www.faced.ufba.br/~bonilla/politicas.htm Acesso em: 02 maio 2008.

FONSECA, Aidil Brites Guimarães; Cruz, Adriano Charles da Silva. Uma onda de educação: o Rádio no MEB. IX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação da Região Nordeste, 2007 – Salvador – BA. Anais: Intercom. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/regionais/nordeste2007/resumos/R0648-1.pdf- Acesso em: 25 maio 2008.

MIRANDA, Orlando. A Era do Rádio: Nosso Século. Abril Cultural, v.5 n.º7, p.72, São Paulo, 1980.

SABACK, Maria Angela de Merícia Correia; et al. Educação a distancia via rádio: exemplos históricos e atuais. Disponível em: Acesso em: 25 maio 2008

SALES, Eugênio de Araújo. Correspondência enviada a Aidil Brites Guimarães Fonseca. Rio de Janeiro, 03, outubro, 2005. Carta.
Disponível em http://www.intercom.org.br/papers/regionais/nordeste2007/resumo/R0648-1.pdf- Acesso em: 25 maio 2008.

SEED - Secretaria da educação à distância. Programa: Rádio escola - Mec Disponível <http://portal.mec.gov.br/seed/index.php?option=content&task=view&id=155&Itemid> Acesso em: 15 maio 2008

Nenhum comentário: